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terça-feira, 3 de abril de 2012

25 DE MARÇO DE 2012

Entrevista com o Pr Miranda ao Jornal Correio da Tarde

"O cristão evangélico deve ser diferente na política"

Carlos Skarlack


O pastor Francisco Cícero Miranda, assumiu a presidência da Igreja Assembléia de Deus de Mossoró, dia 20. Ele é natural de Martinopolis (CE), onde nasceu em 15 de dezembro de 1949. É casado com Maria Núbia da Costa Miranda, com quem tem três filhos: Wendel, Wenderly e Weldenyr e três netos: Vinicius, Francisco e Rebeca. Licenciado em Letras pela UFRN, é Pós-Graduado em Missiologia, pela FATEBOM e em Ciências da Religião, pela FATEL, de São Paulo. É evangélico desde 1965 e chegou Rio Grande do Norte em 1970 para servir a Miarinha. Depois de ser consagrado missionário foi para a Guatemala e depois para Guiana Francesa. No RN, dirigiu a UMADEM, em Natal e as igrejas de Jardim de Piranhas, Santa Cruz, Parnamirim e Assu, antes de chegar a Mossoró. Nesta entrevista, o pastor Miranda traça o perfil ideal para o evangélico na política; discorre sobre questões como aborto e homossexualismo, com a mesma firmeza que anuncia que evangelizar será sua prioridade.

CORREIO DA TARDE - Pastor Francisco Miranda quando o senhor se converteu? 

FRANCISCO MIRANDA - Me converti no ano de 1965, no dia 27 de junho na cidade de Sobral, no Ceará.

Quando veio para o Rio grande do Norte? 

Vim para o Rio Grande do Norte no ano de 1970, com o objetivo inicial de servir à Pátria, na Marinha do Brasil.

Quando foi consagrado? 

Fui consagrado a evangelista logo direto. E teve um caso especial pois a Assembléia de Deus é uma igreja de escada. O obreiro vai sendo consagrado a diácono, presbítero, pastor e por aí vai. Mas eu fui consagrado direto a evangelista. Foi no ano, de 1974, em Natal, na Convenção Estadual.

Qual foi sua primeira missão?

Depois de consagrado fui enviado para o campo missionário, assumindo a igreja de Jardim de Piranhas, em 1985. Lá passei quatro anos.

Depois o senhor começou uma experiência internacional?

Fui enviado para a América Central e fundamos a missão brasileira na Guatemala em 1979, onde passou quatro anos.

Foi nesse período que o senhor foi seqUestrado? 

Sofri um sequestro do Exercito Guerrilheiro dos Povos, uma facção da guerrilha de Cuaba , El Salvador e da Guatemala. Eles diziam: tomamos café em El Salvador, almoçamos na Guatemala e vamos jantar em Honduras. Era um projeto de tomada dos três países.

Como foi a experiência nesse período?

Tive duas experiências fantásticas. Fui para lá sem falar o idioma fluentemente. Foi à primeira barreira. Há 30 dias que estava lá, visitei uma igreja, e uma irmã falou em Português, claro. Foi à maior experiência vivida por mim em terras estrangeiras. Quando você é um estrangeiro e ouve alguém falando em seu idioma é uma coisa extraordinária.

O que a mulher falou? 

Ela disse, através do Espírito Santo que "este estrangeiro que vem de terra distante, nos trás uma mensagem nova. Quando disse isso usou a irmão em línguas estranhas e depois falou em português.

Qual a mensagem?

Foi aí que Deus disse: Vai para a Cidade de Cuilapa. Era a capital de uma província da Guatemala. Na época não havia Assembléia de Deus na cidade.

Como foi o início do trabalho lá?

Aluguei uma tenda de circo, uma empanada de circo para fazer uma cruzada. Então instalei na quadra de basquete da cidade. Uma multidão de gente no primeiro dia foi para assistir o circo. Quando chegaram lá tinha um pregador. Um cearense enviado pelo Rio Grande no Norte. Não se converteu ninguém. No segundo dia um número menor. Mas no terceiro dia a terra tremeu, literalmente. Nesse dia deu um terremoto que abalou a cidade. A experiência que eu tive foi enorme.

Quando ocorria algo assim, como ficava a situação?

Quando tinha uma experiência assim às pessoas saiam de dentro de casa. Ninguém mais dormia. Eu fui auxiliar, carregar mulheres, crianças. E dizia: agora vocês vão agradecer a Deus lá na tenda. Pois vocês sofreram o abalo, mas não morreram. Naquele dia nasceu a Assembléia de Deus naquele lugar.

O que aconteceu? 

E eu peguei um serviço de som e sai no outro dia na cidade, anunciando que hoje a noite, na tenda instalada na quadra de basquetebol estaremos falando do tremor de terra. Foi o tremor de terra que me deu a chave. O povo dizia, vão falar sobre o terremoto. Então lemos o texto que "haverá terremoto em várias cidades". Naquela noite 27 pessoas se entregaram para Jesus. Com essas pessoas tive material humano para fazer o trabalho inicial que cresceu. Depois aluguei um salão, pois tinha muita gente e a história mostra que hoje temos a igreja Assembléia de Deus naquela região. O pastor Raimundo Santana esteve lá, visitando como presidente do Estado, e conheceu. Ai eu comecei uma ação missionária pois também fui convidado para ensinar em um Instituto Bíblico Indígena, na fronteira com o México, província de Solola para onde viajava toda semana. Passava três dias, ministrando para estudantes de Teologia, para formação pastoral. O sistema lá era de em seis anos formação para pastores.

Foi neste período que o senhor foi seqüestrado? 

Em uma dessas viagens, que fazia toda semana, foi quando eu me deparei com um grupo de seqüestradores que me interceptou na estrada, tomou o meu carro, me bateu. Ainda hoje tenho marcas de cortes no corpo. Foram uns 150 homens, saíram da estrada. Ainda hoje, quando vou numa estrada que vejo uma multidão eu paro no automático. Ainda hoje, mesmo isso tendo sido em 1982. Depois de sofrer o seqüestro a igreja aqui achou por bem marcar meu retorno e voltei no dia 15 de novembro de 1982.

O senhor também esteve na Guiana Francesa?

Passei três anos lá, onde construímos um templo com 640 metros de área construída. Também construímos dois templos na cidade de Kuru, na França, onde está a base espacial da França. Naquele local existia um salão alugado. Nós construímos ainda uma igreja e abrimos o trabalho na cidade de San Loran, na fronteira do Suriname com a Guiana France, e lá também construímos um templo onde temos uma próspera igreja hoje. Nós deixamos estabelecidas três construções e três igrejas fundadas.

Quando voltou ao Brasil? 

Voltei ao Brasil, passando a ser presidente da UMADEM - União da Mocidade da AD de Natal, por um ano. Em 1986.

Depois o senhor assumiu a igreja em Santa Cruz? 

Depois fui para a cidade de Santa Cruz, em 1987, onde fiquei até 1993. Lá fundamos um Colégio Evangélico, preocupado com o social, já espelhado no Colégio da igreja em Mossoró.

Voltou a cumprir escala ministerial em Natal?

De Santa Cruz, o pastor João Gomes, quando assumiu em Natal, me chamou para ajudar no departamento de missões, que era apenas uma Secretaria de Missões e transformamos em Departamento de Missões. Passei cinco anos e dois meses.

Como foi a passagem por Ceará-Mirim?

De Natal fui Para Ceará Mirim onde passei quatro Anos, de 1998 a 2002. Destaco a expansão do trabalho do campo, pois recebemos com 19 igrejas, e deixamos com trinta e duas.

Como define o chamado para a igreja de Mossoró?

É um grande desafio. A Igreja Assembléia de Deus é organizada, comprometida, com homens de Deus que formam o Ministério em Mossoró. Recebo esta missão, satisfeito, pois sei do legado deixado pelo pastor Martin Alves. E tenho que administrar para não decepcionar. Confiando em Deus, sei que haverei de superar, em nome de Jesus, todas as ações que vierem contrárias. Nós vamos superar as adversidades e vencer em nome de Jesus.

Cada ministério tem uma visão diferente...

Como eu não sou candidato à presidência (da Assembléia de Deus no Rio Grande do Norte); sou um pastor que vou me dedicar mais, integralmente, a ser pastor de Mossoró na acepção da palavra. Então, nossa prioridade será o trabalho em Mossoró, especialmente, de evangelismo.

Essa é uma das diferenças entre o senhor e o pastor Martin Alves? 

Existe esta diferença do meu antecessor (pastor Martin Alves), que já era visto como candidato a presidente, por isso ele tinha que se deslocar por outras cidades. Na prática ele já era cobrado assim. E tinha que se deslocar. E eu não serei, na prática, um pastor que é candidato. E isto dará condição de me dedicar mais pastoral e evangelisticamente à cidade de Mossoró.

Qual o seu primeiro ato? 

Seguindo a decisão do nosso pastor presidente no Rio Grande do Norte, Martin Alves, que decidiu realizar um mês de oração, jejum e consagração orientamos aos nossos obreiros, a cumprir o mesmo objetivo.

Será um mês de consagração?

Sim. Conforme a data estabelecida pelo nosso pastor presidente no Estado, iremos encerrar essa campanha com uma grande vigília, no dia 14 de abril.

Aqui em Mossoró, a vigília de encerramento onde será?

Em Mossoró a nossa Igreja Assembléia de Deus vai encerrar o mês de jejum e oração, com uma grande vigília no templo sede - localizado na Avenida Leste Oeste.

Todas as congregações estão envolvidas nessa consagração?Estão todas as congregações, todos os irmãos. Essa é nossa convocação para que possamos buscar a orientação de Deus para as nossas vidas, o nosso ministério. Todos os obreiros que são coordenadores de campos foram mobilizados e esperamos realizar uma grande vigília no dia 14, na igreja central.

Como o senhor encara a missão de evangelizar

Na área de evangelismo nosso propósito é cumprir integralmente, a missão em Mossoró. É a Missão Mossoró que visa saturar de evangelho toda a cidade. Falo da evangelização que as igrejas fazem sempre. Mas, que precisa ser renovada. Sempre. Há cada seis meses é preciso essa renovação. Vamos investir no evangelismo.

E na área social, a igreja dispõe de equipamentos como um Centro Clínico

Eu ainda não tive uma reunião com a diretora do Centro Clínico, o que farei em breve. Estaremos tomando pé da real condição da atuação dessa área. E evidentemente, o compromisso social nós temos e pretendemos ampliar. Em nada isso será diminuído. Pelo contrário, será ampliado. Nossa proposta é continuação e ampliação desse serviço.

Como o senhor acompanha o aumento do número de igrejas evangélicas, de forma em geral? 

Pessoalmente eu não tenho nada contra nenhuma igreja. Porém, a Assembléia de Deus tem sua linha de ação que é centenária. Então, não vamos fugir da nossa linha. E vou continuar vendendo meu peixe, sem preocupação com a atuação de outras igrejas. Não vejo isso como competição.


Em 2011, foi realizado em Mossoró o I Cristo Liberta, promovido por dezenas de igrejas evangélicas, com apoio total do governo Fafá Rosado. A Igreja Assembléia de Deus, sob o comando do pastir Martin Alves, que foi decisiva para o evento, participará este ano?
Eu entendo que a igreja evangélica tem a sua missão e o seu compromisso de pregar o evangelho de Jesus Cristo, independentemente de ação, de apoio dos Poderes Públicos, seja Prefeitura, Governo do Estado ou Governo Federal. Devemos como servos de Deus cumprir a nossa tarefa de apostolo, de discípulo. Agora, se o Poder Público, qualquer que seja, quer corroborar, apoiar na realização de grandes eventos evangelísticos, desde que a liderança dessa ação seja do segmento evangélico, eu não vejo nenhum problema. Temos que apoiar.

Qual a sua opinião sobre questões como o aborto? 

Pessoalmente, sou totalmente contra o aborto. O Senhor Deus é o doador da vida e encerrar uma vida precocemente é trabalhar contra Deus.

E sobre o homossexualismo? 

O homossexualismo é uma distorção completa da raça humana. Mas isto não significa dizer que temos que discriminá-los. Jamais. São pessoas que precisam; que carecem no nosso amor e da nossa compreensão para resgatá-las aos olhos de Deus. Mas, na nossa visão teológica o homossexualismo é abominável.

Quais os prejuízos que conflitos entre lideranças evangélicas, como o que acontece no momento entre o bispo Edy Macêdo e o apóstolo Valdomiro, podem gerar ao crescimento da obra de Deus? 

Isso só traz prejuízo. É lamentável. Que concordemos são duas lideranças religiosas que mexem com paixões, no sentido das pessoas, das famílias e é muito triste, como componente dessa sociedade tomar conhecimento desses fatos lamentáveis. Agora, o que é certo é certo, o que é errado é errado. Não vamos apoiar fulano por perseguir beltrano, ou vice e versa. São pessoas que ainda não entenderam o grande desgaste, pois a sociedade quando vai avaliar os evangélicos não sabe fazer separação denominacional. Chamam farinha do mesmo saco.

Qual a sua opinião sobre a participação de evangélicos na política partidária? 

Eu vejo como uma necessidade dos evangélicos, a participação na política partidária. Mas também, existe um lado que lamento quando o evangélico que ocupa algum cargo não faz o diferencial. O cristão evangélico precisa fazer o diferencial em qualquer função em que ele esteja.

O político evangélico deve ser diferente, em sua opinião? 

Não é querer ser melhor ou maior do que os outros. Entretanto, na função que ele ocupa não pode calçar 40, como se diz na política. Ser igual a quem não é evangélico. O cristão evangélico deve ser diferente também na política com o seu procedimento. Por exemplo, como aconteceu no escândalo chamado de Sangue Suga (em que alguns políticos evangélicos foram envolvidos). E como a gente ler na Bíblia temos bons exemplos de pessoas como José, que foi governador do Egito, mas não se corrompeu. Como o jovem Daniel, no Velho Testamento, que foi um primeiro ministro na Babilônia, mas os homens não encontram nele, e nem em seus três amigos crentes, defeito algum. Esse é o modelo que deve ser seguido. Não existe aqui, nenhuma censura, nem nada contra. Mas, é precisamos mostrar a posição como evangélico. É muito bom quando ouvimos autoridades dizerem que um evangélico político, ou um político evangélico é um bom exemplo.

Fonte: http://www.correiodatarde.com.br/editorias/correio_politico-70210

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